segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

“Atsukan” ou “Sake” Quente

Inverno Japonês e seus Costumes 
by Chef Roberto Festa Araújo - Publicado na Revista Alternativa - Japan                   
Ezie Still & Food Photographer 
    
Uma boa forma de conhecer um país e seus costumes e entendendo seu cotidiano através da cultura e gastronomia.
Na cultura japonesa o saquê tem muito mais significados, que simplesmente o de ser, apenas uma bebida alcoólica... Deve estar sempre presente nas inaugurações, comemorações, casamentos e em celebrações religiosas, como um atributo de boa sorte, considerado no Japão, uma bebida sagrada, por ser feita a partir da fermentação do arroz, alimento de cor branca, relacionado à prosperidade e simbolizando o “Poder e Pureza das Divindades, de Deus ou dos Deuses”.
“Atsukan” é o nome que se dá ao saquê aquecido antes de se beber, e quando servido dessa forma, adquire uma maior maciez, podendo se apreciar melhor seu sabor, seus segredos, sua personalidade e seu aroma, o “kaori”, que se exala pelo ambiente.
Para os fãs das reuniões em casa, beber um saquê quente em companhia dos amigos é vivenciar uma cultura diferente, através de comidas, bebidas, costumes e rituais, pode encontrar momentos prazerosos em encher uma ou duas daquelas garrafinhas de saquê, o “tokkuri”, coloca-las dentro de uma dessas panelas japonesas de cerâmica, com água fervida, deixando lá por uns três a cinco minutos, tempo para que a bebida chegue na temperatura entre 40°C a 50°C, o “atsukan” e, antes de servir, passar a água quente nos copinhos de cerâmica, o “choko”, preparar “otsumamis”, petiscos japoneses como: edamame, tsukemono, sashimi, karaage, gyoza, cogumelos ou outros legumes salteados em óleo de gergelim com shoyu e outros, preparação que já é toda uma experiência, de um “ritual” com a cultura e gastronomia japonesa, repleta de detalhes e de rituais.

A temperatura ideal para beber será sempre a que lhe agrada mais, entre os 40°C e 50°C mas existem algumas regrinhas na etiqueta japonesa, que na hora de servir, nem sempre o anfitrião precisa servir, isso não é uma regra, mas no caso de uma relação entre chefe e subordinado, social ou comercial, o superior dentro da hierarquia, seja o chefe, o cliente, os convidados ou homenageados, serão sempre servidos, não importando sua idade ou sexo, não é apropriado nesses casos, que e eles se sirvam, normalmente é servido por quem está ao lado, ou por quem estiver mais próximo e, enquanto é servido, levanta-se o copo com o apoio da mão esquerda, segurando-o com e a direta.
É considerado uma cortesia e respeito, manter o copo dos convidados ou superiores sempre cheios e, quando se faz o brinde, o “Kampai”, beber num só gole, isso demonstra interesse de participação, respeito e hospitalidade.
Nem todos os saquês devem ser aquecidos, como o Daiguinjo e o Guinjo, não devem ser aquecidos a mais de 40 graus, já para se beber gelado, o mais apropriado e o Namazake.
Como o saquê é extraído da fermentação do amido transformado em liquido, não se harmoniza muito bem com pratos combinados com muito arroz ou massa, podendo dar aquela sensação de que foi uma má escolha, transformando a combinação meio pesada.
O saquê mais seco, acompanha bem os ingredientes de sabores mais picantes e agressivos, já para comidas com sabores mais sutis, os saquês mais suaves. Se não tiver como escapar daqueles pratos à base de frituras, ou aqueles com “gordurinhas”, sirva-se de um Saquê mais encorpado, do tipo Junmai, de 100% de álcool extraído do próprio arroz. Pedir uma orientação e sugestão na hora de comprar seu saquê para aquecer, pode ajudar a preparar uma combinação mais agradável.

Uma boa dica para os “marinheiros de primeira viagem”; _Apesar de seu buquê e paladar suave, o saquê pode, inesperadamente derrubar os desavisados, como num golpe de samurai.

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